Conta-se que vários porcos-espinhos viviam juntos, porém ninguém se aproximava de ninguém, pois sempre que um chegava perto do outro acabava-se machucando devido ao espinho que cada um carregava em seu corpo. Porém, um dia veio um inverno muito forte como nunca havia ocorrido e todos os porcos-espinhos precisaram se proteger do frio em um pequeno abrigo. Isso fez com que eles superassem o desconforto causado pelo espinho alheio e ficassem juntos para que um pudesse aquecer ao outro e, juntos, sobreviverem ao rigoroso inverno.
Não se sabe se essa história é verdadeira ou não, porém esta fábula nos ensina que cada um de nós temos “espinhos” que machucam os outros, entretanto precisamos conviver com eles. Nenhum ser humano é uma ilha isolada e precisamos uns dos outros.
A comunidade
Viver em comunidade é mais que viver com uma comum idade (horrível trocadilho, mas deixa pra lá). Será que é possível viver em uma comunidade de forma isolada? Creio que não.
Quando usamos a palavra comunidade não nos referimos a um bairro ou alguma região geográfica da cidade, mas em um grupo de pessoas que convivem juntas com objetivos comuns. Talvez o termo comunidade de fé fosse mais apropriado. Inclusive algumas igrejas tem utilizado o termo comunidade em seus nomes ao invés do termo igreja, o que nos leva a indagar: Toda igreja é uma comunidade ou toda comunidade é uma igreja?
A vida em igreja traz algumas implicações. Vejo muita gente falando mal da igreja, porém, a maioria dessas pessoas está fora dela. É fácil ficar de fora “jogando pedras”, mas poucos querem assumir o compromisso de ficar dentro e contribuir para a vida da igreja.
Uma igreja séria e verdadeira é aquela que é totalmente bíblica, onde seus pastores não brincam de pregar a palavra, mas estudam seriamente o texto bíblico e trazem uma boa mensagem para os irmãos (2Timóteo 2.15);
Uma igreja séria e bíblica é aquela onde em seus púlpitos não se prega apenas sobre milagres e dízimos, mas procura-se transmitir os ensinamentos da Bíblia como um todo, que, certamente, vão além destes dois assuntos (Hebreus 4.12);
Uma igreja séria e bíblica é aquela onde se prega que a salvação da alma vem pela graça de Deus e não pelo mérito (pelo que a pessoa faz ou contribui) (Efésios 2.8)
Uma igreja séria e bíblica é aquela onde as pessoas são tratadas como iguais, onde todos reconhecem que são profetas e sacerdotes e não apenas um povo levado pelo líder carismático (1Pedro 2.9);
Uma igreja séria e bíblica é aquela onde se ensina que cada cristão deve amar a Deus acima de todo o entendimento e com todas as suas forças e ao próximo como ama a si mesmo (Mateus 22.34-40).
Uma igreja séria e bíblica é aquela onde os irmãos oram uns pelos outros quando estão sofrendo, mas também louvam juntos quando estão felizes e isso que Tiago está nos ensinando. É isso que é viver em comunidade. É isso que é ser igreja.
Na alegria e na tristeza
A vida em uma comunidade de fé, com irmãos, implica em compartilhar sentimentos. O apóstolo Paulo disse o seguinte: “Alegrem-se com os que se alegram e chorem com os que choram” (Romanos 12.15). É como um casamento, precisamos estar juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na fartura e na escassez.
Como eu tenho agido nessas situações? Como você tem se comportado nessas situações? É preciso se alegrar, mas em alguns momentos também é preciso chorar. É preciso se alegrar com quem é aprovado na escola no fim do ano, mas também é preciso chorar com quem é reprovado, por exemplo.
Unção com óleo
No verso 14 Tiago fala que a oração deveria ser feita juntamente com a unção do óleo sobre o enfermo. Em todo o Novo Testamento essa prática é mencionada apenas duas vezes: em Tiago e em Marcos 6.13. Existem dois entendimentos para esta recomendação de se passar o óleo em alguém:
1) Prática – o óleo era muito usado como remédio nos tempos de Jesus e Tiago. A parábola do samaritano (Lucas 10.34) diz que o homem espancado recebeu óleo em seus ferimentos. Sendo assim, Tiago estaria dizendo para orar e aplicar remédio.
2) Estímulo a fé – nesse caso o óleo seria um ‘acessório’ à fé. Teria um propósito mais religioso.
Podemos concluir que a unção com óleo é um ato simbólico. Alguém pode até pensar que se a recomendação aparece na carta de Tiago, devemos praticá-la, porém, se a unção com óleo fosse imprescindível para a oração e cura, todas as curas do Novo Testamento teriam registrado a utilização do óleo, mas isso não acontece. Os presbíteros, citados em Tiago, poderiam usar o óleo, mas não precisavam fazê-lo. O poder da cura não está no óleo, mas em Deus. É bom compreendermos isso para não sermos levados por ensinamentos que vemos por aí, onde até óleos, ditos importados, são vendidos para a cura.
O que sabemos é que Deus cura com os meios, sem os meios e apesar dos meios. Que Ele nos oriente a sermos igrejas sérias e bíblicas e a convivermos, desta forma, em comunidade de fé e amor na prática.
Carlos Daniel